Smart Cities, Tourism & Destinations ... Digital is the path
O mundo digital possui um potencial sem precedentes, renovando as ferramentas, valores e paradigmas organizacionais que constituem e acompanham a era digital e permitem que o empreendimento humano seja organizado de uma forma melhor e diferente.
O turismo inteligente ou smart tourism, pode ser descrito como a convergência da tecnologia e informação com o turismo. Neste âmbito, as pessoas trabalham para construírem ecossistemas sociais utilizando a troca de informações através de dispositivos móveis conectados à Internet. Esta mudança de paradigma e de hábitos, leva o turismo a (re)construir a sua realidade social, onde a troca de informações é rápida, abundante e permite ao turista ser mais independente (Hunter et al., 2015). Esta fusão entre a perspetiva tecnológica, as tecnologias de informação e o turismo podem criar e desenvolver novos produtos e destinos turísticos.
O smart tourism é desafiante, pois conjuga vários pontos de vista com inúmeras realidades construídas e holísticas. Assim, surgem novas ideias de negócio, novos padrões de experiência e novos problemas relacionados com a gestão e marketing dos destinos turísticos. Nascem novas ferramentas de auxílio ao turismo para que possa compreender melhor implicações sociais e a implementação prática dos novos ecossistemas neste novo paradigma.
Smart destinations, têm como objetivo a criação de destinos turísticos inteligentes, auxiliando a competitividade dos stakeholders e dos destinos turísticos. As smart cities, utilizam tecnologia para obter conhecimento, recolher e analisar dados, por sua vez, os destinos turísticos inteligentes também utilizam essa tecnologia para melhorar a oferta turística (Celdrán Bernabeu et al., 2018).
SMART CITIES
Uma smart citie, vai muito para além da soma dos esforços de tecnologia, inteligência artificial, automação, digital e big data, pois relaciona todos aqueles que residem ou trabalham no meio ambiente Hammons & Myers (2019), não sendo um conceito novo pois tem sido desenvolvido ao longo dos anos. Governos e Municípios têm vindo a apostar na implementação de soluções automatizadas ou digitais para fornecer serviços de melhor qualidade, tornando os serviços mais eficientes, sendo a alavanca a utilização das tecnologias de informação para criar maior eficiência nos serviços e recursos de uma cidade, aprimorando o bem-estar ético e social dos cidadãos, fornecendo uma conexão em rede que se traduz em: qualidade, desempenho e interatividade dos serviços urbanos a fim de reduzir custos e consumo de recursos e aumentar o contato entre cidadãos e órgãos públicos e privados (Lalicic & Önder, 2018).Pressupõe-se que numa cidade inteligente exista articulação entre
departamentos Cocchia (2014), privilegiando uma abordagem
holística e multidisciplinar, visando a construção e implementação de: 1. Visão
e estratégia: onde os municípios devem definir uma visão de futuro e estratégia
de desenvolvimento a médio e longo prazo; 2. Monitorização e métricas: devem
ser utilizados indicadores e métricas específicas na área das smart cities;
3. Envolvimento dos cidadãos: é necessário focar nas pessoas e compreender a
tecnologia como um instrumento para promover a competitividade,
sustentabilidade e a inclusão social com vista à melhoria da qualidade de vida
dos cidadãos; 4. Parcerias e redes: os municípios devem colaborar com todos os
agentes dos ecossistemas locais de inovação, particularmente com empresas,
universidades e centros de I&D e utilizadores; 5. Quick wins e projetos
estruturantes: estratégias associadas ao desenvolvimento das cidades inteligentes,
conjugando uma visão de longo prazo com objetivos de curto prazo, combinando
projetos estruturantes com pequenas ações de baixo custo e elevado impacte na
vida dos cidadãos; 6. Living labs e experimentação: conceito de
laboratório vivo, aberto à inovação, onde poderes públicos, empresas, centros
de conhecimento e cidadãos colaboram no desenvolvimento, teste e experiência de
soluções tecnológicas em contexto real; 7. Plataformas urbanas: adoção de plataformas
integradas de gestão urbana, onde é possível recolher, integrar e analisar
dados e informação de suporte ao processo de tomada de decisão e definição de
políticas públicas; 8. Política de dados abertos: os municípios devem tornar os
dados acessíveis à sociedade, para apoiar a tomada de decisão, garantir a
transparência e estimular a criação de produtos e serviços inovadores; 9.
Sistemas abertos, escaláveis e interoperáveis: sistemas abertos, escaláveis e
interoperáveis e, 10. Privacidade e segurança: proteção de dados, privacidade e
segurança em conformidade com a legislação nacional e europeia.
Para Cocchia (2014), cidades inteligentes são a base para que se desenvolva o smart tourism, que é traduzido como algo inovador, um destino turístico construído com infraestruturas de alta tecnologia, prevendo o desenvolvimento sustentável de áreas turísticas inclusivas, facilitando a interação do turista com o meio ambiente, aumentando a qualidade da experiência e a qualidade de vida da comunidade envolvente.
SMART TOURISM
A ideia de Smart cities, surge de debates sobre o crescimento tecnológico,
resultantes do Protocolo de Kyoto e seguramente com base em objetivos sustentáveis
(Cocchia, 2014), o conceito de Smart tourism surge mais tarde, após a
introdução da noção de Planeta inteligente, pela International Business
Machines Corporation, onde o foco são os big data e a tecnologia de
ponta. Inicialmente os conceitos de turismo inteligente davam grande relevância
ao papel das tecnologias de informação (Gretzel
et al., 2015).
Sob este ponto de vista, o Smart tourism, preocupa-se em fruir de
várias tecnologias inteligentes, como aplicações móveis, sensores, medidores
inteligentes, sinalizadores, plataforma cloud, bancos de dados, entre
outras funções que em conjunto formam um ecossistema digital inteligente,
promovendo inovações sustentadas por dados e suporte a novos modelos de
negócios (Gretzel
et al., 2015). Tendo
em conta esta perspetiva de big data, teríamos um turismo alicerçado em
recolher e agrupar dados oriundos de infraestruturas físicas, conexões sociais,
fontes governamentais e organizacionais que em combinação com a utilização de tecnologias
avançadas, transformavam esses dados em experiências locais e propostas de valor
para negócios, tendo como foco a eficiência, sustentabilidade e a melhoria das experiências
(Gretzel,
2019).
Contudo, o conceito evoluiu e o desenvolvimento inteligente tornou-se mais
abrangente, levando a que surgissem três dimensões: tecnológica, humana e
institucional. Nesse sentido, Yigitcanlar
et al. (2018), explicam que os ativos impulsionadores
do desenvolvimento de uma smart citie são, tecnologia, política e a
comunidade e os pilares da economia abrangem a sociedade, meio ambiente e políticas
públicas, elevando a mobilidade, quotidiano e pessoas ao smart living.
Para Yigitcanlar
et al. (2018), as smart cities deveria
estabelecer oito áreas de pensamento e desenvolvimento: Políticas públicas; Planeamento;
Produtividade; Inovação; Condições habitacionais; Bem-estar; Sustentabilidade;
e Acessibilidade. Pilares estes que levam a uma gestão integrada, planeamento
inclusivo, participativo e abrangente, aumento da produtividade e trabalho
qualificado. Traduzindo-se em vantagens competitivas, como, inovação cultural, acessibilidade,
transportes, infraestruturas, aumento da qualidade de vida, gestão e utilização
responsável dos recursos naturais. Vantagens estas que levam a que exista uma comunidade
inclusiva como é de espera numa smart citie.
Dentro do contexto turístico, segundo Gretzel
et al. (2015), a base tecnológica permite que
se recolham e relacionem dados, trabalhando em rede num ecossistema inovador para
a economia do turismo. Esse ecossistema inovador prevê que o smart tourism,
seja composto várias camadas, para Gretzel (2019), surge uma camada física que abrange
os recursos turísticos naturais e artificiais, infra-estruturas de transportes
e serviços; tecnologia inteligente que se liga às infraestruturas físicas e dá
soluções de negócios e aplicações tecnológicas ao consumidor; possibilidade de armazenamento
de dados; ideias de negócio inovadoras de base tecnológica e experiências aperfeiçoadas
pela tecnologia.
Na perspetiva de Lalicic
& Önder (2018) a gestão e políticas públicas dentro
do smart tourism devem incluir as partes interessadas em turismo e
requerer o envolvimento tanto dos turistas como dos residentes, levando a que a
própria comunidade seja produtora de experiências e possa verificar que fraquezas
existem no destino turístico onde se insere e criar soluções como, Airbnb ou Airport Shuttle.
Koo
et al. (2019), traçam objetivos de
desenvolvimento do smart tourism como, competitividade, sustentabilidade
e inclusão, levando a ter sempre em consideração o antes, durante e o pós-experiência,
pois é através da avaliação que se podem criar mais e melhores produtos inovadores.
Boes
et al. (2016), afirmam que a orientação
estratégica deste tipo de turismo dever ser voltada para o empreendedorismo,
liderança, inovação, capital humano e capital social.
Smart destinations, são um novo desafio para a gestão dos destinos turísticos, onde sem o recurso às tecnologias, onde é possível existir uma colaboração público-privada-consumidor, é impossível alcançar uma valorização de mercado como afirmam Femenia-Serra & Baidal (2018) e rebatem a ideia de que destinos inteligentes utilizam a tecnologia para modificar as relações que os turistas estabelecem com o destino turístico.
SMART TOURIST
Para além das smart cities, do smart tourism e das smart destinations, os turistas também passaram por uma enorme transformação devido à introdução de novas tecnologias. O mundo digital, as tecnologias de informação e o poder de um clique, tiveram grande impacto no comportamento do turista, Cohen et al. (2014) e nas experiências (Pezzi & Vianna, 2015). A mudança de paradigma fez com que o novo turista tenha o poder da informação no telemóvel e o processo de procura, reserva, personalização e comunicação de informações seja realizado em minutos (Buhalis, 2001). As mudanças tecnológicas são evidentes, desde o surgimento de um vasto leque de conteúdo online gerado pelo próprio utilizador Tussyadiah & Fesenmaier (2009), ao surgimento de smartphones, Wang et al. (2012), meios de comunicação social, Munar & Jacobsen (2014) e os serviços com reconhecimento de conteúdo e localização, Buhalis & Foerste (2015), levam a um grande impacte nas escolhas do destino e nas experiências.
A Capital Europeia do Turismo Inteligente identifica implementações
inteligentes extraordinárias em diversas cidades europeias que se destacam em
quatro categorias: sustentabilidade, acessibilidade, digitalização, assim como
património cultural e criatividade, reforçando a premissa de que é necessário criar
redes, fortalecer destinos e facilitar a troca de boas práticas. O smart tourism responde aos novos
desafios e procura num setor que está em constante mudança e onde é possível,
através do digital, reformular e criar novas ferramentas, produtos e serviços, levando
a uma igualdade de oportunidades e acesso a todos, tendo em mente o
desenvolvimento sustentável, apoio a indústrias criativas, talento e património
local (Gretzel,
2019).
Como consequência dos avanços tecnológicos, surge um novo tipo de turistas
que se caracteriza por ser mais exigente, informado e qualificado, independente,
ativo e que facilmente descobre novas maneiras de procurar informação, adquirir,
reservar, interagir, partilhar, reclamar e recomendar (Pearce,
2011). Mudanças estas que levaram a um
perfil de turista digital, Benckendorff
et al. (2014) com uma conectividade omnipresente,
facilidade de acesso a dados e primazia pelos dispositivos móveis o que exige
uma estrutura atualizada para compreender melhor o smart tourist (Neuhofer
et al., 2015).
Os fatores chave para traçar um possível perfil do smart tourist,
prendem-se com a descrição das suas atitudes e comportamentos em relação ao smart
tourism, ao modo como este funciona, a oferta existente e o modo como este
a avalia (Ajzen
& Fishbein, 1977).
Numa era digital, todos os sistemas utilizados, funcionam através de
dados que se espalham por diversos canais de distribuição. Assim, a tecnologia
de recolha de dados atua sobre todas as informações carregadas nas redes sociais
e que, por si só, exibem um determinado perfil de utilizador (Fuchs
et al., 2014). Esta recolha de dados é utilizada
com o objetivo de antecipar o comportamento do turista/cliente, Höpken
et al. (2018), agrupando vários elementos significativos
e demonstrando os vários padrões e comportamentos (Baggio
et al., 2016).
Segundo Pan
& Yang (2017), os big data e a recolha
de dados extrai informações de acordo com diversos perfis de turistas e organiza
todas as informações turísticas de acordo com as necessidades dos turistas como
confirmam (Sertkan
et al., 2020). Hoje em dia os smartphones também
são equipados com um sistema de posicionamento global (GPS) que não só auxilia
o turista a chegar a determinado local como mostrará as opções alternativas de
turismo (Gretzel
et al., 2015). O GPS e as aplicações móveis rastreiam
e registram todas as atividades turísticas, localização, tempo de duração num determinado
local, quantas vezes o local foi visitado, quanto passos foram dados e como
isso tem impacte na saúde, entre outras funções (Mckercher
et al., 2012). As tecnologias de informação mudaram
por completo a maneira de interagir dos turistas, levando a que interação
social entre turistas, a comunidade envolvente e a procura física por informações,
não seja tão necessária, pois os turistas digitais organizam todas as informações
com antecedência ou no momento através do smartphone, de acordo com as
suas necessidades (Purwaningsih
& Ekosiwi, 2019).
No campo digital, as tecnologias são consideradas uma ferramenta muito importante
na criação, apoio e reforço das experiências turísticas, provendo informações
que podem ser a base de produtos turísticos e experiências inovadoras e únicas (Wang
et al., 2012). A utilização das novas
tecnologias, o livre acesso à internet na maior parte dos locais, os dados
móveis e as múltiplas opções, possibilita ao turista, a criação e gestão das
suas próprias experiências, fazendo com participem de forma dinâmica e ativa
dentro do destino (Gretzel,
2010).
As informações recolhidas sobre o smart tourist, fornecem muito
mais do que simples informações sobre a viagem, dão acesso a um histórico
pessoal gerado no dia a dia. O cruzamento dessas informações com a experiência
turística, podem ser benéficas para o desenvolvimento do smart tourism (Dan
et al., 2014). A utilização de vários
dispositivos inteligente faz com que seja possível recolher informações sobre o
estado físico e emocional, conectando com o desenvolvimento do turismo
inteligente é possível compreender como é que o turista interage com e dentro
de ambientes físicos e sociais (Liu
& Liu, 2016).
É importante que os profissionais do turismo compreendam que uma das grandes forças do smart tourism é a interconectividade de diferentes stakeholders, contextos e canais de informação e comunicação, Dan et al. (2014), como é o caso da bilhética e dos serviços específicos de mobilidade. Informações poderosas para que profissionais ligados ao turismo, gestão de destinos turísticos, planeamento, branding e marketing, desenvolvam ferramentas e canais de distribuição alinhados com as necessidades e experiência turística (Coca-Stefaniak, 2019).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O mundo digital muda e desponta rapidamente, levando a uma elevada necessidade de investigações sobre as tecnologias de informação e comunicação. Este artigo de revisão bibliográfica sobre smart tourism complementado com temas ligados a smart cities, smart destinations e smart tourists, levou ao cruzamento e análise de vários autores como (Leśniewska-Napierała et al., 2020). Tendo em conta o mundo em mudança e a evolução digital, este tema torna-se pertinente para o desenvolvimento do setor turístico, a criação de novos produtos através dos dados disponíveis através da tecnologia (Duran, 2020). O smart tourism pode ser esmiuçado sob várias dimensões, desde o campo da construção de uma cidade com recurso à tecnologia, o acesso a dados que permitem criar e desenvolver o turismo, recursos e destinos turísticos, até ao tratamento de dados disponíveis nas plataformas digitais que auxiliam a traçar novos perfis de turistas (Gretzel et al., 2015). Foram analisadas diversas perspetivas, cujos resultados permitem entender que vivemos tempos de constante mudança, que o turista é muito mais exigente, informado e detém um poder enorme de elevar ou denegrir, qualquer produto turístico, através de um clique no smartphone (Dan et al., 2014). É necessário criar novos produtos turísticos, mais interativos apelando a experiências únicas, pois o smart tourist, facilmente planeia a sua rota (Liu & Liu, 2016).
Apesar deste conceito já demonstrar alguma expressão pelo mundo, é um novo campo de pesquisa e a literatura científica existente pode ser complementada com novos estudos com perspetivas complementares. O smart tourism auxilia o desenvolvimento do território, dando-o a conhecer ao mundo e ajudando no marketing e branding territorial (Coca-stefaniak, 2019).
Em tempos de crise como o COVID-19, Lapointe (2020), refere que é necessário repensar o turismo, analisando fortemente a sustentabilidade, existindo a necessidade de adaptar estratégias e visões. Contudo, em tempo de confinamento a era tecnológica foi mais sentida do que nunca e transportou os turistas para um mundo complementar das viagens, em que as viagens virtuais ganharam expressão e a videoconferências sobre a temática têm feito parte do quotidiano. Será proveitoso retirar ideias da crise que estamos a passar e (re)criar o turismo, dando destaque ao smart tourism, pois o trabalho em rede e o digital, demonstraram que podem mover montanhas (Rocha, 2020).
O desenvolvimento do smart tourism como mentalidade e abordagem para alcançar metas de eficiência e sustentabilidade integra muitos aspetos que foram identificados pontos fracos, como a resiliência e a exposição dos destinos a maiores riscos devido à facilidade de informações. Urge a necessidade de serem realizadas mais investigações de um prisma mais crítico e menos focado na tecnologia do smart tourism, para seja possível revelar vulnerabilidades, implicações e possíveis rasteiras do desenvolvimento de turismo. Por outro lado, a investigação sobre a resiliência do destino poderia ser outro bom ponto de partida, assim como, questões de gestão e políticas públicas “smart” deste tipo de turismo. Em suma, existem várias questões interessantes que podem levar a mais pesquisas futuras, contribuindo para que as sinergias entre o real e o digital elevem o mundo do turismo e das experiências.
Fonte: Blog Olisipo
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